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  • fernandoamposta

Do Ideal Martinista

Louis Claude de Saint-Martin em vida alcançou grandes feitos, foi maçom, Elu-Cohen, pertenceu a tradição de Mesmer, em suma, em boa parte de seu tempo percorreu de bom grado e com muita dedicação a estas tradições iniciáticas. Mas, numa análise mais profunda, isto representa a sua busca exterior por aquilo que seria de fato o seu valor interior. A marca do encontro com o este valor se dá em seu pedido de exclusão dos registros da Franco-Maçonaria, onde, somente figurava nominalmente. Neste ato inerentemente simples, o mestre se despoja de um arcabouço arcaico. Saint Martin obteve em todas estas experiências a noção do que era o mais importante, de que o verdadeiro elo que liga os irmãos é um elo moral e espiritual e não formalidades de reconhecimento ou protocolos políticos.

Foi duramente criticado e acusado de fundar uma seita, “seita dita dos Martinistas” mas fez-se entender de forma clara:


“Minha seita é a Providência; meus prosélitos sou eu; meu culto é a justiça...”


Em face de seu profundo conhecimento, sabia que deveria partilhar sua sabedoria e com isso proporcionar o alimento espiritual àqueles que com “o coração sincero” lhe procuravam a fim de serem possíveis aspirantes.


Em seu Círculo dos Íntimos acolheu a todos, homens e mulheres transformando em discípulos escolhidos e amigos fiéis.


Em sua estrutura, o Círculo dos Íntimos fugiu da concepção rígida e hierarquizada que se observava na maçonaria em outras tradições congêneres. Sua estrutura era animada única e exclusivamente por um elo de natureza espiritual, tal como uma família que se reconhece por seus laços sanguíneos, os discípulos de Saint-Martin se reconheciam pela sua ligação com o propósito de reintegração ao Criador, a regeneração do estado Adâmico tão proclamado por Pasqualy.


Nesta estrutura quase familiar, expôs muito de seu profundo conhecimento iniciando seus irmãos em uma doutrina que contemplava ensinamentos que iam desde A Queda do Homem, passando pelo significado cósmico do Tetragrammaton (em grego clássico: τετραγράμματον; transl.: Tetragrammaton, "consistindo de quatro letras" YHVH ou o Nome Sagrado - Teônimo hebraico de Deus יהוה) indo até práticas cabalísticas de meditação baseadas no Pardes (PaRDeS).


Mas Saint-Martin, em sua doutrina, em seus ensinamentos só é alcançado pela iniciação Martinista? A resposta é não mas, cabem ressalvas. O ser Martinista não é exclusivo aos que são formalmente iniciados em uma Ordem, em verdade este “estado de consciência” pode ser plenamente alcançado por todo aquele que saído do fluxo da torrente da vida mundana manifeste em seu coração, em sua alma, o desejo de se reconectar ao Criador. Para tanto o mestre publicou toda a sua filosofia em 16 obras que ajudam o buscador nesta senda iniciática. Mas cabe ressaltar a singularidade da iniciação Martinista. O Filósofo Desconhecido transmitia um misterioso viático, uma chave mais estranha do que as clavículas, um extraordinário encanto do influxo Divino que emanava de suas mãos, uma espécie de "benção" que fazia o sacerdote ou o adepto, receber o poder ou a facilidade das ciências. Uma virtude mágica que caminha do natural ao sobrenatural. Prodigioso e impalpável auxiliar que se dá sem dividir-se, que se transmite de homem a homem; guarda seu efeito próprio e infalível, mas não desenvolve inteiramente seu poder, senão no espírito pronto a conservá-lo. Singular fascinação dessa corrente sutil, desse fluído vital que anima o membro do corpo místico. Tal chave, neste sentido exclusivo, só é transmitida em uma verdadeira iniciação Martinista. Ela é a “liga genuína” de um corpo místico Martinista.


Louis Claude de Saint-Martin soube com profundo discernimento o verdadeiro papel da iniciação e com sabedoria entendeu que seu mecanismo não ultrapassava "as leis da natureza corporal".


"Vós tendes razão, escrevia a Willermoz, de crer que a nossa sorte depende de nossas disposições pessoais, tendes ainda razão de crer que o grau... dá ao iniciado um caráter, nada é mais verdadeiro que a perfeita harmonia dessas duas coisas e não deve ter um efeito real que, sem dúvida, aumenta com o tempo, pelas instruções e pelos cuidados que cada um pode acrescentar-lhe".

O mestre transmitiu a seus discípulos o depósito da iniciação, a fim de que germine naquele que é digno de recebê-lo e que purifique aquele que ainda não o é.


"Se o poder da iniciação não opera sensivelmente pela visão, opera, não obstante, infalivelmente, como preservativo e prepara a forma daquele que se mantém puro, para receber instruções salutares quando o espírito o julga conveniente".


Desta forma, sem aventais e sem fitas, sem vaidade e sem orgulho, sem pompas e circunstâncias, a iniciação que Saint-Martin confere à sua Ordem, será a primeira etapa da única iniciação, da iniciação última, "a Santa e Sagrada Aliança que só se pode contrair após uma perfeita purificação".


Vertitas et Virtus

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