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  • Foto do escritorVictor Canongia

Maçonaria e Religião - Parte 1

Atualizado: 23 de set. de 2020

Introdução à série e o que é religião

Irei iniciar uma série de artigos cuja a intenção é definir diversos conceitos relacionados à religião, filosofia e ciências sociais para enquadrarmos a exposição do que vem a ser religião. Posteriormente iremos analisar se Maçonaria é ou não religião e por último tentar explicar porque tanta confusão entre as diversas Igrejas e a Maçonaria.

Aproveito para dedicar esta série de artigos, Maçonaria e Religião, para os meus amigos e parentes de mente aberta que não são irmãos da Maçonaria, mas que se interessam por este tema. Valho-me desta série, igualmente, para compartilhar este ponto de vista com os irmãos da Maçonaria de espírito claro.


Os assuntos abordados neste site são embasados em pesquisas acadêmicas sérias e não em "achismos fantasiosos" ou escritores pouco confiáveis, ainda que populares. Como pesquisador, sempre busco os múltiplos lados de um fato e não apenas o mais interessante. É comum, ao longo de uma pesquisa para um artigo, mudarmos de opinião e, por surpresa, adotarmos um posicionamento totalmente novo e inesperado.


Neste site eu irei abordar a religião como instituição, com todas as falhas e méritos que ela possui. Respeitando a narrativa de cada leitor, pois eu sei que questões relativas ao sentido da vida (como morte, dor ou existência de um deus) cada um tem a sua forma de lidar e, por tanto, buscar as respostas que lhes são mais consonantes. Afinal, a nossa existência é temporal.


Como já exposto no artigo Veritas et Virtus - Parte I a Verdade sempre aparece com o Tempo. Então, é possível que daqui a alguns anos novos dados confiáveis venham a antepor-se às minhas presentes colocações, mas pelo momento, a corrente publicação é o que eu entendo de mais atual.


Para aqueles que não leram todos os artigos do site eu sugiro ler o artigo O que é Maçonaria para entender um pouco sobre o que é Maçonaria e perceber que a Ordem varia de Rito para Rito; de país para país; e de época para época.


A Maçonaria é dinâmica, como um organismo vivo, que se adapta com o tempo e os lugares. Entender isto é fundamental. Portanto, conceitos e julgamentos sobre a Maçonaria variaram e continuam oscilando conforme o período e o local.


Em verdade, quem entender isto a pouco citado de imediato já terá a resposta se Maçonaria é ou não religião, ainda assim é com muito prazer que eu gostaria de deixar registrado no "espaço virtual" a visão do nosso site sobre este assunto e aprofundar um pouco mais nesta temática.


Como as religiões variam ao longo dos séculos, diversificando-se de país para país, e para não nos perdermos em conceitos de dois assuntos extremamente complexos e ricos (Maçonaria e Religião) irei demarcar, no tempo e no espaço, a presente série de pesquisa.

- Tempo: os últimos dois mil anos. Não levarei em conta os primórdios da formação histórica do homem, nem a sua percepção do divino e a relação com o oculto.

- Espaço: Europa e Américas. Não falarei das religiões orientais e africanas. Basicamente irei me referir à matriz cristã, visto que esta religião marcou a cultura europeia nos últimos dois mil anos.


Ao todo serão quatro postagens, que provavelmente originarão publicações futuras sobre outras temáticas. Mas por agora pretendemos responder principalmente às seguintes dúvidas:

- Maçonaria é religião?

- Quais as relações das Igrejas com a Maçonaria (passado e presente) e os seus reflexos?

- Por que o preconceito ou os pensamentos bizarros a cerca da Maçonaria?


Como eu já abordei o que é Maçonaria em outro artigo, agora eu irei desvendar o que é religião. Definir religião é uma aventura, cada autor tem uma visão. Ainda que não bastasse o número de religiões espalhadas pelo mundo para enriquecer o debate. Outro componente que dificulta a pesquisa de um trabalho sério é filtrar o cronista e perceber o quanto comprometido ou apaixonado por uma religião ele é, bem como a sua possível aversão às outras crenças.


Cada escritor utiliza uma metodologia de enquadramento do seu termo. Portanto, são múltiplas as definições. Com humildade, exporei minha visão, sabendo que não será a ultima palavra no assunto, mas apenas um caminho coerente para o entendimento.


Vamos para a conceituação clássica utilizada por muitos acadêmicos, que é a etimologia da palavra religião. Religião tem a sua origem na palavra latina religio que é um substantivo que tem o mesmo significado da palavra religião em português.


Mergulhando mais fundo, percebemos que religio tem a sua origem, possivelmente, em dois verbos latinos:

- religare: é o mais conhecido para explicar religião, pois dá a entender que a religião tem a função de ligar o homem à algo, mas num sentido de uma ligação do natural com o sobrenatural.

- relegere: configura essencialmente o ato da prática de adoração, pelo fazer escrupuloso que determina uma relação com os deuses, no sentido de rigidez, normas e rotinas.

Juntando os dois conceitos que evoluíram e se mesclaram ao longo dos séculos eu vou destacar dois conceitos que de fato caracterizam uma religião:

- Crença no sobrenatural; e

- Regras para ditar o modus vivendi.


Desta forma, podemos afirmar que religião é um conjunto que reúne crenças e visão de mundo, conectando o homem com a espiritualidade e estabelecendo uma relação social dentro de determinados valores éticos e morais.

O grupo religioso irá utilizar narrativas, símbolos, tradições e histórias para dar um sentido à vida ou explicar a origem do homem e do universo, incluindo a forma de comunhão entre os planos. Como ética, moral e valores ajudam a organizar uma sociedade, as religiões, com as suas regras sociais, integram parte do Poder Ideológico.


Em poucas linhas eu explicarei as engrenagens do poder na visão contemporânea.

O filósofo italiano Norberto Bobbio (1909-2004), identificou três formas de poder:

- Poder Econômico: exercido por quem tem posse dos bens materiais e do dinheiro. Ditam as regras do jogo, independente de governo ou ideologia.

- Poder Político: exercido por quem controla o Estado e detém o direito de uso da força física e da justiça contra os membros de uma comunidade. Realiza as determinações advindas do Poder Econômico.

- Poder Ideológico: exercido por quem tem a capacidade de criar ideias e ideologias e, com isso, manter toda a estrutura social em funcionamento. Legitima e sustenta o Poder Político.


Ao longo da nossa história a religião caminhou junto com a justiça e a política, para validar o poder do soberano e as leis do juiz. Estes três arquétipos (sacerdote, juiz e governante) se mesclaram e se confundiram até meados do século XVIII na Europa. Em muitos lugares no mundo, ainda hoje, estes papéis são entrelaçados e profundamente associados.


Para o professor israelense Yuval Harari (1976), o mito serve para unir o ser humano. Através do mito o homem se uniu para construir a sociedade. Os mitos são as bases das religiões e dos partidos políticos.


Segundo o sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002), O habitus é um conjunto de valores, normas e elementos culturais, que moldam a sociedade e têm a capacidade de juntar e de separar as pessoas. É uma atuação inconsciente e a sua assimilação dá-se por meio das representações ideológicas a que somos submetidos.


Bom, após mencionar os ilustres pensadores contemporâneos, posso concluir que a religião foi e é utilizada para manipular a sociedade pois faz parte do Poder Ideológico, juntamente com todas as formas de mídias e centros educacionais.


Então a religião é algo ruim?

Claro que não.


Eu pactuo com o estudioso religioso Huston Smith (1919-2016), em sua afirmação: "Se considerarmos as religiões duradouras do mundo da melhor forma, descobriremos a sabedoria destilada da raça humana." Sim, as religiões são os depositórios do verdadeiro, do belo e do justo. Infelizmente por diversos motivos, políticos e econômicos, estes conceitos são distorcidos no seio das inúmeras religiões.


A religião é um alento em meio a confusão social, ela ajuda a "navegar por mares turbulentos". Mas aqueles que buscam este conforto, também podem encontrá-lo em meditações, junto dos verdadeiros amigos ou em terapias. De qualquer sorte é uma busca interior para aqueles que ouvem a "voz interior" e uma escravidão externa para aqueles que ouvem a "voz externa".

Um outro ponto interessante de ser abordado para esclarecer a série Maçonaria e Religião é: religiosidade.


Religião e religiosidade compartilham do mesmo radical mas são palavras distintas. Religiosidade é um sentimento de fé e praticas, algo intimo e pessoal. Religião é instituição, Poder Ideológico e regras. A religiosidade é a interpretação, e efetivação prática, que um indivíduo tem ao refletir sobre a religião que ele pratica. É uma forma de se expressar e de se conectar com o oculto, algo pessoal. O religioso utiliza como ferramentas e conceitos a sua fé e procura manifestar, no mundo material, o que há de bom no além, agindo de forma positiva no universo tangível.


Este diálogo, do homem com a sua fé, terá múltiplos reflexos que irão oscilar entre os belíssimos discursos éticos e as lamentáveis justificativas genocidas, entretanto, tal procedimento de interação com o eu se assemelha com as escolas filosóficas e este assunto será tema do próximo artigo, que tratará sobre: Filosofia, Metanarrativa e a Maçonaria.


Veritas et Virtus

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