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  • Foto do escritorVictor Canongia

São João, o Solstício de Verão e a Maçonaria


Contrariando a nossa sequência de artigos, venho publicar este na frente de muitos outros. O motivo é não perder a oportunidade da data de 24 de Junho, dia de São João Batista (usaremos o termo São João, não por preciosismo religioso, mas por costume).


O próximo artigo será sobre a Maçonaria e a religião, mas vou aproveitar o momento para não perder o princípio da oportunidade. Mas... falar de São João e Maçonaria não é a menor novidade, dirão muitos. Exatamente, não é novidade. É tudo do mesmo, mas gostaria de compartilhar o meu pensamento sobre o assunto, por deveras explorado.


Mitos, símbolos e ritos estes são alguns dos ingredientes que formam uma organização (Igrejas, Maçonaria, partidos e países). O presente artigo irá levantar algumas ideias sobre alguns simbolismos e o mitos relacionados a São João Batista e a sua influencia na Maçonaria.


Para tanto vamos recordar alguns pontos:

1 - Os símbolos permeiam o imaginário humano a mais de 120.000 anos e o Sol, nosso Astro Rei, tem uma forte representação neste ambiente. Já comentamos sobre os solstícios na seguinte postagem: https://www.avoznodeserto.com/post/feliz-solstício-de-verão .

2 - A Maçonaria nasceu no Hemisfério Norte, por conseguinte é importante analisarmos este texto sob a perspectiva de quem está no lado boreal da Terra. É importante estar atento a isto.

3 - Maçonaria não é religião, mas utiliza de personagens religiosos para enriquecer os símbolos e os ritos e assim passar uma mensagem mais produtível.


Primeiramente iremos comentar sobre o Sol e os seus ciclos anuais e diários. O Sol tem uma representação muito diversificada, às vezes até contraditória se fizermos comparações entre diversas culturas, mas neste pequeno escrito iremos abordar sob uma ótica metafísica. O Sol como a representação de uma manifestação divina. Divino no sentido filosófico, ou seja, a emanação do Belo, do Verdadeiro e do Justo.



Em sua viagem anual, o astro no inverno está afastado e no verão mais próximo da superfície terrestre conforme o hemisfério. Por volta do dia 21 de Junho ele se encontra no Solstício de Verão (de Inverno no Hemisfério Sul), vamos lembrar que a análise é feita pela perspectiva do Hemisfério Norte. No Verão, o Sol está em seu pleno radiar. No seu ponto mais forte, carrega consigo todos os atributos relacionados a este fato.


Agora vamos fazer outra observação, ao invés do ciclo anual vamos observar o ciclo diário. Durante o dia, na sua jornada de 24h, o Sol também tem seu momento de máxima e mínima. No caso a sua máxima é ao meio-dia. O meio-dia é o ponto máximo do Sol, momento de brilho e força. Logo temos uma representação para dois atos semelhantes. O Solstício de Verão tem uma forte relação com o meio-dia. Ambos representam o Sol em seu esplendor, um durante o dia e outro durante o ano. Em verdade, é ao meio-dia do Solstício de Verão que o Sol atinge o seu zênite, indicando o máximo de um processo evolutivo.


Falar da importância do meio-dia nos trabalhos ritualísticos tornaria este artigo por demais longo e cansativo, além de fugir da proposta do tema, mas muitos leitores irão entender a forte ligação entre os temas.


Simbolicamente, o zênite marca a passagem do finito ao infinito, da materialidade para a espiritualidade, do físico para o metafísico, mas o zênite também marca o fim de uma ascensão ou de uma jornada. Vamos guardar um pouco estes conceitos solares e desenvolver a simbologia em torno de São João Batista.


O Cristianismo, em sua estratégia de se expandir dentro e fora do Império Romano, sempre procurou misturar os seus símbolos e mitos com os hábitos e cultos locais, aliás, este era mais um hábito do Império Romano do que propriamente dos cristãos. Neste processo e com esta intenção, o eixo dos solstícios foram cristianizados: São João Batista (no lugar da deusa Fortuna e as comemorações de Vestália) para o Solstício de Verão e Jesus de Nazaré (no lugar do deus Mitra e as comemorações do Sol Invictus) para o Solstício de Inverno.


Os evangelhos testificam que João Batista cedeu lugar para Jesus de Nazaré: "É necessário que ele cresça e que eu diminua" (João 3:30), Em total conformidade com os aspectos de ascensão e descensão dos solstícios. Ou seja, João Batista representa, já neste versículo, a necessidade de renovação e da ciclicidade da vida. Fortune rota volvitur!!!


Em Roma o Solstício de Inverno era celebrado no dia do Sol Invictus quando o Astro Rei começava a subir acima do horizonte e prolongar a duração dos dias. Por volta de 330 EC, os cristãos em Roma começaram a comemorar o nascimento de Jesus no dia do Sol Invictus. Então, eles substituíram o feriado pagão por um feriado cristão. Mais tarde, além de Jesus de Nazaré ter sua comemoração no dia 25 de Dezembro, o dia 27 de Dezembro foi dedicado a São João Evangelista (também faremos uma postagem sobre isto). A tradição cristã considera que João Batista representa o ponto culminante e final da Antiga Lei, que vê amanhecer a sua realização.


A Maçonaria, por ter sido desenvolvida em um ambiente cristão, tomou emprestado os arquétipos do cristianismo para facilitar a comunicação das narrativas e penetrar com mais facilidade na psique do iniciado, então vamos ao arquétipo ligado à João Batista.


Batista foi o precursor de Jesus de Nazaré, anunciando a todos que ele estava chegando. João Batista se declarou: - E João lhes disse: “Eu sou a voz do que clama no deserto: 'Fazei um caminho reto para o Senhor', como disse o profeta Isaías." (João 1:23).

Qual a interpretação, dentre as muitas que podem surgir?

Comecemos por: "preparar o caminho". Em uma interpretação gnóstica ou de um Cristianismo Primitivo (30 a 325 EC), a intenção dos monges ou profetas do deserto era alcançar a iluminação por meio de praticas ascetas e contemplativas. Contudo, para se iniciar nestas pratica os mistagogos ensinavam primeiro a importância buscar o desenvolvimento das virtudes e a auto observância dos maus hábitos, estas atitudes iriam "preparar o caminho".


"A voz que clama no deserto", dentre as várias interpretações, pode ser lida como a necessidade do trabalho individual, representando a nossa consciência gritando, querendo nos despertar para uma realidade verdadeira, e não as percepções ilusórias nas quais os não despertos estão mergulhados. Aquele que inicia este processo indicado pelos guias tem esta sensação: de andar em meio a um deserto, ainda que em um ambiente urbano.

Outra interpretação sobre a figura de João Batista é a personificação do combate à tirania e às faltas cometidas pelos ricos e poderosos. Ele foi decapitado por não se sujeitar aos caprichos dos grandes da sua época, isto mostra sua afinidade com os princípios maçônicos. Há também o ato do batismo que apresenta semelhanças comparativas com o ritual de iniciação, a qual marca um recomeço ou um novo despertar. Todas as analogias podem ser consideradas como uma introdução aos Mistérios Menores e uma preparação para os Mistérios Maiores. Assunto parcialmente abordado na postagem: https://www.avoznodeserto.com/post/os-mistérios-menores-eleusinos


Muito há para se falar da relação dos atributos de São João Batista e Maçonaria, inclusive a data oficial da organização da Maçonaria é 24 de Junho de 1717, mas isto fica para uma próxima postagem. Não obstante, eu não poderia deixar de registrar a importância de celebrar a fraternidade entre os irmãos e a brindar a memória dos mestres passados.


Estas duas festas, Natal e São João, registram a ação dos verdadeiros iniciados em um ciclo de criação sempre se renovando: no inverno Jesus de Nazaré, comemorando o nascimento do Sol Interior e a esperança; no verão São João Batista, no auge da luz espiritual e o esplendor do autoconhecimento.


Portanto, que possam todos aproveitar o dia de São João e permitir que o fogo cósmico atinja o seu ápice, para que ao menos uma chispa divina, repleta de virtude, possa nos envolver e nos aproximar do Belo, do Verdadeiro e do Justo.


Um brinde fraterno aos de hoje e aos de ontem!!!


Veritas et Virtus

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